domingo, 5 de julho de 2009

Capítulo XL


Era o vento o meu guia.
Guia da alma, da luz e do ar. Navego em ti, soprado pelo vento. Vens na minha orla, vou na tua sombra. As forças que me vão lambendo e fazendo navegar no teu perfume, dizem-me onde te encontras.
Não te misturas no meu mar, mas do meu ar te fazes mulher. Vaga a vaga, meu rio enche e no teu vou-me encontrando. Na calmaria da maré, o vento retoma às origens e eu sigo desamparado.
Vou ao teu encontro, talvez me encontres também.

domingo, 29 de março de 2009

Capitulo XXXIX

Buliam os dedos nas cordas esticadas de uma viola por afinar.
O som estridente e cortante derramava na minha voz embargada, resquícios desafinantes do meu sentir. As notas soltas e livres que me iam acompanhando eram modestas odes cromáticas de cinzas apagadas. Nas garras afiadas do tempo incerto, a minha viola debatia-se como peixe no anzol na procura da fuga prometida. Eram simples acordes de cordas discordantes, mas ainda assim soltavam chispas da alma. As tão badaladas baladas eram inadvertidamente inadequadas ao meu momento incómodo e incolor na dor.
Decidi-me antes por causas estapafúrdias e barburdiantes e ser cantor na dor.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Capitulo XXXVIII


O mar calou-se.
Lavei-me e levou-me com ele. A vinda e a volta não me davam volta à cabeça nem me tiravam o sentido de orientação. O sul continuava a esconder o sol e o norte, num desnorte de marés. Fui decidido e nada me faria olhar para trás, só um torcicolo mal curado para lavar os meus pecados. O sal queimava-me as mãos e sentia o fervilhar no sangue, o sol que me lambia a pele. Remar contra a maré não faria sentido, nem sentido tinha não sentir a água sem sal. Contido ficava eu de cada vez que me cruzava contigo.
E assim fui avançando...

Capitulo XXXVII


Desta vez queria fazer diferente.
Sei que não me bastaria apenas dizer-te coisas bonitas e confiar nas minhas palavras. O meu toque sentido sentindo o teu contido no meu, fazia-me sorrir. Segui decidido pela rua ao teu lado, seguindo a tua mão. Passo a passo na minha algibeira e já meus sonhos se tornavam teus. As ruas de tão estreitas pareciam montras perfiladas à espreita, em cada reflexo meu sussurrado no teu ouvido. Soprei-te então um rosto que me atormentava. Rias-te sem perceberes que era de ti que falava. Eu sorria também. Minha sombra caminhante misturava-se na tua, tomada de inocência puramente casual.
A viagem só tinha ida e eu seguia pela tua mão.

capitulo XXXVI


Finalmente chovia.
Caía violentamente como numa zanga de séculos. Enquanto me deslocava pacientemente por entre as bátegas que mais pareciam pequenos martelos, as sirenes confundiam-se com o sentido unidireccional do nevoeiro que se ia abatendo sobre mim. À minha volta, simplesmente nada. Apenas a confusão caótica provocada por restos de ruído e rastilhos roídos de inveja e pura maledicência. Tentei pôr-me à escuta para ver de que lado da rua escolheria o meu caminho. Mas nem a chuva nem o coração, me davam pistas claras sobre qual deveria eu seguir.
Mas fechei os olhos e avancei.
Sim, é verdade...eu chorei.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Capitulo XXXV


Decidi sentar-me.
Enquanto eu sentisse a espuma agridoce do teu sonhar acordada, iria querer ficar com certeza sentado à tua espera. Nem era assim tão desconfortável ficar à tua espera. Mesmo andando de pantufas sobre pedaços de nuvem enrolados pela cintura, o cansaço era evidente. Era tão óbvio, que por mais leve que o meu ar se tornasse era sentido de forma intensa e permanente pelos dedos que me iam amparando os movimentos. Esse ar ia bailando em fortes aspiradelas expelidas e sem ritmo certo formando grandes coágulos no espaço vítreo à minha volta. E até o conhecimento de tão estranha arquitectura, não me seduzia a natural fadiga imposta pela forma de sentir teu desejo. Sentia-me cansado.
Decidi sentar-me.

Capitulo XXXIV


Duas taças de Champanhe...uma toalha vermelha e nós.
Uma lua em cada copo e fomos bebendo o luar que nos oferecia a janela da noite. O escarlate da paixão, inundava-nos os poros e estes soltavam gritos de prazer que se misturavam na neblina nocturna. Nada parecia alterar o nosso estado alterado e alternado de silvos e tornados entornados dos nossos corpos virados. O show que nos era oferecido e no qual iamos participando com algum à vontade, tinha o tempo contado. Contando cada minuto, cada metro e tínhamos o nosso espaço bem delineado. A lua de cheia passava ao quarto pelo caminho, minguando até o copo ficar vazio.
E assim se preparava o renascer...e assim de novo, a vida.

Capitulo XXXIII


E o barco finalmente saiu.
Ao embarque, todos nos seus devidos lugares. Eu, tu e a nossa vontade deslizávamos juntos naquelas águas de paixão. Ondas calmas de prazer nos invadiam a alma, sempre com a cadência certa e ao ritmo programado. O céu de tão azul, queimava-nos o rosto e o sal da água entorpecia-nos a língua. Nem o leme do barco cedia à tentação de se voltar contra a corrente da nossa loucura. A transparência era clarividente, tanto que se viam centenas de pequenos elementos do rio, que nos acompanhavam em doces silvos gritantes de quem se procura afogar mesmo não sabendo nadar. Várias eram as pontes que nos olhavam com desdém. Várias eram as pontes que nos viam passar. Aquele apoio era uma constante ao longo das margens.
E mesmo as margens nos olhavam de lado, como se se sentissem desconfiadas da nossa natureza tão verde mas ao mesmo tempo pronta para a colheita.

Capitulo XXXII


A rua era mesmo ao fundo.
Na sombra dos meus passos apressados, apressava-me eu descalço, pela calçada a baixo. Ao sol que encandeava, deixava-me cegar sem chegar ao fundo interior. Escaldões da alma, só quando me olhas e sorris desse jeito que me toca o peito. Mais um beco passado num futuro adiado e eu sem ti aqui, a meu lado. A cada cruzamento cinzento, cega-me a luz que me conduz no teu pensamento. Eis-me chegado por fim, destinando ao teu lugar secreto e finalmente desperto.
A minha rua terminava...tinha a tua começado.

Capitulo XXXI


Cheguei cansado.
A viagem tinha sido algo dura. Nas mãos trazia ainda vincos vazios de atitudes, mas cheios de uma cadência cósmica ainda por entender. Ao tempo demorado da jornada faltava-me a figura, em sentido figurado, do teu calor envolto em meu ardor. Seguindo migalhas largadas aleatoriamente e a ritmo certo, vou eu seguindo as pisadas pisadas por mim ainda quando me desfazia em pequenos farrapos de nuvens brancas. As tranças tecidas pelo tempo, entrelaçavam-se entre si enredando-se em mim.
Trocadas as trancas e mudadas as fechaduras, eis me de volta ao ponto de partida inicial.

Capitulo XXX


O livro abriu-se.
A capa castanha de castanho exótico dava côr a cada história mal contada e por acabar. O silêncio buliçoso do virar de cada página, fazia-se sentir na ponta dos dedos da minha mão inquieta. Narrações e virtualidades contadas na primeira pessoa, iam e vinham em suaves prestações prometidas. Aos capítulos do amanhã juntava-lhes eu pela manhã, acontecidos do ontem por inventar. Ao fim de uma tarde sem sol para se pôr, viria uma noite rôta na rota de um astro cadente. Compilações de rascunhos aleatoriamente ordenados à medida do meu tempo, esvaem-se no papel. E assim se conta uma história. Assim se inventa um conto.
O livro fechou-se.

capitulo XXIX



A luz avistava-se rapidamente e o túnel apresentava o seu final.
A inevitabilidade da incerteza representava a dúvida instituída na mente mais astuta. Mesmo a minha tão desperta e bruta, mesclava-se de dúvidas e inquietações. Julgando aparência sentia-me peixe na água, mas a mágoa o meu mar. A ampulheta do tempo contado esgotava-se em mim. No meu túnel findo trouxe a luz, contornos adornados da tua sombra. Trazias tantas novidades não boas de contar e menos de as sentir. Nas mãos apenas o sim que eu não queria ouvir. Pelo menos desta vez.
Ao fim que se apressava a tornar novo ciclo iniciado, respondi eu resignado.

Capitulo XXVIII


Uma palavra não chega.
Um gesto, mesmo sendo aquele movimento perfeito, não chega. Mesmo tendo nas mãos a fogueira que me ilumina a alma, não aquece a tua. Aprendo a ler as cartas sem palavras que um dia me escreveste com os olhos e ainda assim, não te consigo entender. Nos meus trago frases feitas com sinais de fumo e sinto-me derreter. Vejo à noite promessas de cumplicidade que o tempo foi tentando apagar e sei finalmente quem és. Via-me ali tão perto, mas ao mesmo tempo longe de tudo. Agora o vento vem cantando novos rumos.
É tempo de partir.

Capitulo XXVII


Queria ser pássaro.
Queria ser poeta na voz de alguém e cantar como ninguém. Poder voar à noite só para te deixar um beijo e fazer parte dos teus sonhos. Dizer-te o conjunto das palavras mais bonitas que ainda ninguém conseguiu escrever. Ser em ti não só existência mas a essência das pequenas coisas que me fazem ser o que sou. Escrever-te na palma da mão, e mesmo não a sabendo ler, perceberes que te quero para mim.Viajar por entre os teus cabelos, mergulhar no teu olhar e deixar-me definhar na tua boca. Ver e sentir o mundo num só momento a cada vez que te olho. Queria ser tudo mesmo tendo tão pouco.
Mas bastará que me queiras e terei o mundo todo na mão.

Capitulo XXVI


Lá no alto bem alto onde a voz se faz ouvir.
Gritos soltos largados no tempo e libertos a tempo, atravessam ruas e almas peregrinas. Sigo os passos de alguém que me chama a plenos pulmões. Calcorreio montanhas de fé. Enquanto me sinto arrefecer por dentro, o calor das minhas mãos faz-me acreditar em ti. Sinto-me envolvido pelo teu manto tão confortável na minha esperança em te voltar a ver. Nada me trava os passos firmes nem a força bruta com que vou pisando o chão que me atormenta. Dias e noites bebem o meu suor e incitam-me a desistir. Mas sei que não posso nem quero.
Se me chamas, se vou até ti, também sei que me esperas.

Capitulo XXV


O frio fez-se notar.
A porta anunciava aos quatro ventos, com a força de punho firme com que o vento a beijava. Na calma da noite, buliam agora dedos de uma alma inquieta na viola trazida pela chuva fria. Em redor do meu luar, o ar misturava-se numa sensualidade gélida e quase sombria fazendo-me sorrir. Via-me eu arrepiando a cada esgar temporal, mas nem assim disfarçava contentamento. Na mente periódica de saltimbancos e andarilhos meteorológicos, sinto-me em casa confortavelmente sentado no sofá das areias do tempo. Tudo indiciava quando orla matinal ganhasse corpo, o sol chegaria vestido de neve.
E o tempo estava mudado.

Capitulo XXIV


Vi-te num sonho.
Sei que eras tu pois era por ti que eu esperava, enquanto dormia. A janela deixada aberta pela noite, era a tua porta de entrada. Quando te deixaste entrar na minha noite negra, já sabias que eras aguardada. O meu sorriso indicava-te o meu desejo e os meus olhos absorviam toda a tua beleza num só gesto. Queria envolver-te até de madrugada, só te libertar quando o sol fosse de novo dono do mundo. Mas a noite ainda era demasiado nova para dar o lugar ao sol, e eu ainda voava contigo na minha asa.
O sonho comanda a vida e no meu vais tu vivendo...

capitulo XXIII


Simplesmente doce.
Doce e leve como chuva celeste, mas agreste ao toque suave do meu pensamento. Derretendo encanto em taças da alma minha, enches-me o peito de doces encantados. Gulosamente, verto em ti olhares viciados na terapia açucarada que me transmites. Vou-me deliciando assim, vais-me convidando com histórias boas de beber. A tua companhia sabe-me a chocolate quente em final tardio sem fim à vista.
Mais negro menos doce mais branco menos amargo, o chocolate é assim como tu para mim.

Capitulo XXII


Vem sentar-te a meu lado.
Vem ouvir historias que ainda não tenho para te contar. Pensei um dia que juntos, as letras se colariam melhor nas páginas soltas das minhas memórias. O momento assim não passará a ser apenas meu. O meu egoísmo não permitirá. Ao sol à chuva ou sob o mesmo tecto que a lua, cada gotejar toma sabor a tão pouco. Vem ouvir a mesma musica que eu ouço e estando mais perto, não terei de cantar alto. Meu canto pertence-te, minha voz livre também.
Ouve-me...sente-me...Senta-te ao pé de mim.

Capitulo XXI


Estava lá.
Fui a testemunha principal do crime da lua no meu homicídio. Ao meu ego ledo e cego, juntei-lhe um medo doce. A sombra na qual eu me aquecia, ia e vinha consoante a fuga da maré se ia atrapalhando nos meus pés. De mãos presas com a força de um simples grão de areia, tornava-me presa fácil à tua beira. Mais eu me debatia e sob o escuro do céu, mais claro se tornava o meu destino. Badalavam sinos em êxtase e brandiam ventos cortantes a cada grito meu. Nem se tratando de masoquismo consentido, era dor que de tão suave me fizera ficar alegremente desfalecido.
O crime tinha acontecido.

Capitulo XX


Distante distância apenas a um toque de dois dedos.
Dois dedos de conversa para um momento se tornarem numa vida vivida. Aos quilómetros que nos passam ao lado, segue-lhes o rumo cada segredo que te conto. Vou ouvindo a melodia que me sopras ao ouvido e imagino-me voando nos teus cabelos, bem perto da tua boca. Dançando nesse dueto e misturando-me numa amálgama de efeitos especiais de um espaço atemporal, sei saber de ti e dou de mim também. Os teus passos não se ouvem, mas sei que caminhas como eu para ti.
A distância só é distância, quando distantes queremos estar.

Capitulo XIX


Era tempo de novos heróis.
Os dados estavam lançados e o carrossel no meio da estrada. Faiscavam pequenas estrelas sem dono nem lei e iam-me acompanhando à boleia de fé em coisa nenhuma. Ao som estridente da minha distracção saltava barreiras laterais a meu lado num qualquer desassossego alinhavado com tamanha direcção errante, qual fio de condutor descartado e sem carta. De tempos a tempos, eis-me parado à espera de sinais transitados de um código inventado por ti. Sem a cábula para me amparar as quedas, não dava sequer tempo para milagres agridoces. Fazia-me valer da qualidade implícita de saber adivinhações.
Restava-me esperar por ti...

Capitulo XVIII


Eram ventos cruzados.
Vinham e iam em direcções confusas, mas sempre em sentidos correctos. O correcto não é apenas diferente do errado. O correcto embora certo, não andará muito longe da verdade. A verdade sendo como o vento que entra onde outras atitudes apenas esperam á porta, é ela própria dona do seu caminho. Trilha a vertente oposta à sua sombra e não cede à sede de um sol encoberto em si. O cruza e descruza de emoções envolvidas em mim por ventos impostos, toldavam a minha verdade. Mas ela estava lá como uma qualquer corrente de ar leve e solta, pronta a soltar amarras e voar livre no ar.
E com ela, a minha liberdade seria eterna.

Capitulo XVII


A tela ia-se compondo.
A imaginação flutuava em suaves pinceladas de calor humano. Lembravas-me aquela poesia que em boa hora decidi pintar. Em cada contorno de frases feitas deslizava na tela a tinta, sem saber muito bem de cor a cor. As palavras iam ganhando vida na tela e a tela, tons próprios de uma canção ainda por cantar. Não me imaginava usa-la como um espelho de emoções. Mas esta ia reflectindo pedaços de sentir transmitidos pelo pincel e tinta fresca caídos directamente do teu pensamento.
Eu seria apenas a porta ideal por onde fazer voar tinta e tela para escrever a tua alma.

Capitulo XVI


O som tornara-se insuportável.
Fazia lembrar a pedra atirada com força contra uma água em fina folha de papel. Não saltitava, mas latejava nas têmporas laterais a cada vez que me lembrava de ti. Não imaginando tão perto lembravas-me um deserto distante e sem sol, qual mar sem sal. A cada ribombar sintonizado em ti, virava outra página do livro que me ias fazendo ler. As letras que me davas a conhecer não formavam frases simples nem melodiosas. Eram como uma sopa de letras espalhada no chão à espera da minha arte de fazer puzzles. Não as compreendia, mas lia-as com a satisfação de que me eram dirigidas. O som não as clarificava nem as organizava por sí só. Ao invés, iam embaciando-me a mente e só tu permanecias.
Meu coração batia por ti.

Capitulo XV


Lembras-te?
Quando eu era ainda apenas eu, e tu apenas tu? Quando tu e eu nada sabíamos e éramos apenas nós. Eu sabia de ti e tu de mim, mas não sabíamos de nós. Já era bom não saber de nós. Mas agora que sei, prefiro assim. Sabe bem melhor. Sei de ti, sei de nós. Saberás tu também tudo isto que eu sei? Sei que sabes de mim, como também sei que sabes de nós.
Sabe bem saber o que sabemos.

Capitulo XIV


A música era outra.
A página do jornal teimava em dançar ao vento, e telemóvel não parava de tocar. As letras que cintilavam não me cantavam da tua presença. Mais uma página voltada e nada de novo. O número era-me desconhecido. Ao fundo do meu jornal algo que me parecia familiar, pregou-me os olhos. E mais nova apitadela. Era alguém que se fazia anunciar como salvador de coisa nenhuma, a troco apenas de uma pequena fortuna. A decisão fazia-se sentir como finas agulhas de acupunctura na consciência. O tempo não se compadecia com a minha lentidão no absorver das palavras, nem se assustava com a impaciência de alguém que teimava em não perder a voz. Finalmente algo de novo para mim. À ultima hora, o passageiro convidado pela equipa de rugby não usava cachecol mas um boné de uma moda com algum pó na lapela. Decidi-me.
Afinal, era engano.

Capitulo XIII


Pensei escrever-te. O tempo passa, mas parece nem sair do mesmo lugar encantado. Ao longe sinto teu mel no olhar doce e calmo, que tão insistentemente eu procuro à noite ao deitar. Sei que me sentes também. Nem procuro disfarçar tão pouco a minha atitude nesta busca. Sabe-me muito bem saber que estas aí. Sabe-me muito bem saber que me procuras também. A regra do jogo é não seguir regra alguma. Eu estou aqui e tu estando aí, estas aqui também. A cada segundo passado outro lhe seguirá, e nós, sempre nesta constante. O tempo é nosso amigo quando estou contigo. Mas sem ti, simplesmente não existe. Tudo é demasiado vago para ter importância. Posso ser tudo, posso ser pouco mais que nada. Vou apenas onde o vento me leva, sou apenas o que a tua presença deixar.


Capitulo XII


Era a despedida. Depois disto, o caminho tornara-se mais pastoso. Ainda sentia aquele perfume tão característico de quem parte à pressa e nem tempo teve de arrumar as ideias. Embora soubesse que se tratava apenas de um "até breve", o vazio que se instalou tinha sabor a algo mais do que isso. Pouco podia fazer. Por mais voltas que desse, só o chão as ia sentir. Tentei gritar por ti, mas já só o vento ouvia a minha voz. Tentei correr para ti, mas só correr não chegava. Mereces mais que uma humilde corrida. A uma simples palavra de distância, estarias tu, por certo. Imagina-me e imagina-te comigo. É a minha fuga para não perder terreno ao caos instalado. Quando uma estrada chega ao fim, outra começa do mesmo ponto. E um cruzamento nunca é só apenas um cruzar de caminhos, é a indecisão que nos invade.


Capitulo XI



Uma lágrima caiu.
Caiu como uma gota de luar cai do céu e ninguém dá por nada. Caiu e vai deslizando devagar, como o barco dança enquanto a brisa, descansa ao sol Sinto o seu percurso sinuoso, por entre terras de ninguém que me queimam a pele. Por muito que não me queira lembrar que as lágrimas lembram o oceano, elas teimam em trazer-me recordações do mar! Bem, pelo menos sempre é um sabor agradável, a julgar pelas sensações que me desperta. A água da chuva não tem o mesmo sabor. Nem cai da mesma maneira. O seu trajecto é simples e não exige grande perícia da parte de quem a traz até nós. Já uma lágrima é guiada de olhos fechados e com o coração.
Seja por motivos errantes, ou por sentimentos emotivos, ela segue o seu caminho como comboio no carril.

Capitulo X



Imaginava-te assim.
Como uma flor acabada de entrar na Primavera. Quando o ar se enche de êxtase e os perfumes dançam no ar como castelos de areia que construí para ti, é o teu sinal de vida. As folhas de papel que outrora me caíam das mãos, davam agora força para voares do chão. As lágrimas que derramava em ti, iam-te regando a alma e alimentando o meu prazer em te ter no meu jardim. Pétala a pétala, ias mostrando a tua alegria. É um prazer ver-te sorrir assim e sentir o azedume de espinhos tão agrestes esconderem-se enquanto passo por ti, qual jardineiro.
Todo o jardineiro tem a sua flor predilecta, e eu não sendo jardineiro também tenho em ti a minha predilecção.

Capitulo IX


E o vento acalmou.
Depois de tamanha tempestade de vento, chegou finalmente a acalmia, e com ela a estranha sensação de alma virada do avesso. A areia mal tinha acabado de assentar e já via ao fundo a luz do sol que me encadeava. As mãos tremiam-me e o frio que sentia não era tão frio assim. Era antes uma emoção inquietante acompanhada de desejos e vontades submersos em pequenas tertúlias comportamentais. Bem tentara eu perceber a razão de tamanho abalo, o epicentro de todo este rebuliço. Mas nem o vento me cantava ao ouvido, nem tu chamavas por mim. Por muito que me pusesse à escuta, só meu coração me falava de ti e na areia desenhava em letras movediças, o teu nome. E assim, a noite acabou por cair. Fechei os olhos e deixei-me ficar à tua espera.
Sentia-me bem, sentia-me parte da tua acalmia

sábado, 24 de janeiro de 2009

Capitulo VIII


Era suposto ser segredo.
Mas a emoção de to contar não dava para me conter e então contei. Não contei como quem conta até dez ou até um número infinito. Mas também não fiz de conta ser como vento, que por onde passa, não passa sem fazer notar que passou. Disse-te com jeitinho. Soprei com a suavidade de um beijo à muito prometido mas que nem por isso capaz de não te tirar do sério e ao mesmo tempo, fazer-te sentir que assim como serei teu, tu serás minha.
O segredo que era suposto ser segredo, não era tão segredo assim.
Afinal tu já sabias.

Capitulo VII


Este era mais um dia em que me apetecia escreve-te as mais bonitas palavras.
Fechar os olhos e pensando em ti e nas coisas que me falam os teus olhos, simplesmente deixar os dedos dançarem livremente nas teclas brancas do meu computador. Pensar em ti não é difícil. Difícil é conseguir dizer por palavras escritas tudo aquilo que me transmites, quando me fazes companhia nos mais variados sonhos e sentimentos deixados no tempo. A cada momento em que me acompanhas, mil canções de amor me fazem elevar a voz num ritmo pausado, mas ao mesmo tempo numa sofreguidão descontrolada e sem ritmo certo. A paz que me envolve não é pacífica. É bem tumultuosa mas simultaneamente doce e frágil como uma vulgar lágrima. É assim que me sinto. É assim que me fazes sentir. Por muito que escrevesse ou por mais bonitas fossem as frases por mim dedilhadas, ficaria sempre sensação de que só uma ínfima parte te iria conseguir transmitir. Se conseguires imaginar o mar dividido em pequenas gotas, imagina depois só uma.
Essa uma seria toda a minha capacidade de te transmitir o mar.

Capitulo VI


E se simplesmente me apetecesse escrever sobre absolutamente nada!?
Lançar arbitrariamente letras formando palavras e palavras formando frases, sem que essas frases, palavras ou letras tivessem algum significado real. Fossem apenas letras, palavras ou frases, que significassem meramente nada! Pode à partida julgar-se tarefa fácil, mas no entanto fácil é escrever com sentido, fácil é escrever essas mesmas letras, palavras ou frases, de forma entendível por quem as lê, pois é normal escrever-se dessa forma, com esse objectivo. Quer se escreva de forma mais ou menos cuidada, a lógica está em cada encadear de letras, palavras ou frases escritas e com um propósito de transmitir ideias, assuntos. Já quando se pretende escrever obedecendo apenas a uma lógica gramatical e sem a presença de fio condutor entre a escrita e algo existencial, aí acontece a dificuldade. E mais difícil se torna quanto mais letras, palavras ou frases se escrevem, pois o assunto, que já por si não existe, vai-se diluindo com esse avolumar de letras, palavras ou frases. E atendendo ao facto de não se querer perder a atenção do leitor, e amarra-lo à leitura desde a primeira letra, palavra ou frase até ao fim, a tarefa que à partida já não seria fácil, fica realmente complicada. E a apoteose ocorre quando se consegue fazer isso tudo e ainda fazer o leitor ter pensamentos tais como: "Nunca tinha visto isso por esse ponto de vista" ou " Concordo plenamente" ou ainda " De facto tem razão, agora que penso nisso, é assim de facto".
Será que consegui?

Capitulo V


O rio parou.
A hora marcada pelo tempo incerto, não oferecia duvida. A marca estava lá Aquelas águas tão calmas causavam estranheza. Quem passava, não podia deixar de reparar, e soltava um breve comentário. Mas nem me importei quando passei e nem reparei e menos ainda produzi qualquer comentário.
O meu caminho estava traçado, como o de uma flor que cresce selvagem. As pedras sabem as minhas razões. Nem preciso de dar ouvidos ao vento ou escutar o que ele me diz tão insistentemente, para saber que a minha razão é forte. Sei tantas razões que nem a própria razão conhece. O razoável para mim, segue caminho próprio, não depende da minha vontade. Nem o sol se submete à vontade que a lua tem de se mostrar. Apenas sabe quando chega a hora dele.
Eu sou assim, pode o mundo desabar, que passarei ao lado e só se me beliscares no coração, sentirei a dor infligida pelas tuas palavras.

Capitulo IV


Era o cenário perfeito.
A praia estava deserta. Mais deserta do que é habitual para a época.
Talvez fosse por o Sol à muito se ter escondido debaixo do manto de água salgada. Ao fundo, a areia brilhava. Dançava em movimentos enleantes com a lua que não se cansava de insultar o mar revolto.
Tudo se parecia entender, até a brisa dava um ar de sua graça naquela estranha dança sem par. O mar sentia o meu coração. O mar ouvia-nos. Mas era na areia que a emoção tomava lugar. Era lá que dávamos largas a toda a nossa alegria. E a dança continuava, num ritmo cada vez mais alucinante e nós nem dávamos por tamanha confusão.
Já tudo se confundia e nem a pedra sagrada que tantas promessas e confissões nos fizeram fazer, se alheara à festa. Era a sinfonia completa.
Apenas tu e eu permanecíamos numa lucidez desfeita pelo calor da noite. Seria assim até ao canto do cisne.
Eu e tu.

Capitulo III


Estava tudo igual.
Demasiado igual até. Mas sabemos que quando menos esperamos, é quando o mais inesperado acontece.
Foi o que aconteceu naquela tarde. Mal tinha acabado de chegar a casa, quando me deparei com aquele caso tão insólito, quanto engraçado. O gato tinha fugido.
Soubera do acontecido pelas penas amareladas do canário Olegário. É um canário como outro qualquer, mas tem a particularidade de espreitar o tempo com a cauda. Através da cor, sabemos se vai chover, se o sol queima ou simplesmente se o jantar está pronto.
Mas o gato tinha fugido. Chamei-o, mas ele ignorava. O sinal do canário era evidente, mesmo que à primeira vista não desse para perceber, o sinal estava lá!
Talvez fosse às gatas.
Se assim foi, espero que ele não se perca e se encontre de novo com o caminho de casa.

Capitulo II


Minha alma caiu.
Mil pedaços partidos, como num caos ordenado, mas ao mesmo tempo silencioso, se espalharam pelo chão. Minhas mãos trémulas nem queriam acreditar. Como foi possível? Era tamanho, o estrago. Senti um arrepio percorrer-me a alma, pois sabia que já não havia volta a dar. Estava feito. Podia correr, saltar ou até gritar, mas nada daquilo que pensasse fazer me ia fazer sentir melhor, ou pelo menos mais aliviado. A dor , embora fosse suportável, era bastante incómoda. Mas também há a plena consciência de que a roda do moinho que vai rodando ao sabor de águas tão calmas, mais cedo ou mais tarde, trará adesivos suficientes para montar o puzzle desfeito. E com mais uma dúzia de voltas, só um olhar mais atento poderá distinguir as cicatrizes cicatrizadas. É estranho, as vezes o que um simples acontecimento nos faz meditar. Mesmo a mais pequena situação pode esmurrar-nos a cara como um daqueles socos secos em cheio na cara de um "boxeur".

Capitulo I





Vamos?
Vamos ver as palavras que o mar tem para nos cantar.
Queres?
Anda voar na brisa e deixar o sol queimar-nos o rosto, como uma laranja que amadurece lentamente. Segura-te e vem no meu peito deliciar-me com a tua maneira de olhar para o meu vazio, quando não estás. A sensação que me é oferecida a cada toque teu no meu olhar, dão-me razões mil para não te deixar cair em memórias soltas e largadas ao vento. E sempre que esse vento me grita o teu nome, sinto e sei que és tu quem me chama. Dá-me a tua mão.
Sente-me o coração e agarra-te bem, vamos voar.