domingo, 1 de fevereiro de 2009

Capitulo XXXVIII


O mar calou-se.
Lavei-me e levou-me com ele. A vinda e a volta não me davam volta à cabeça nem me tiravam o sentido de orientação. O sul continuava a esconder o sol e o norte, num desnorte de marés. Fui decidido e nada me faria olhar para trás, só um torcicolo mal curado para lavar os meus pecados. O sal queimava-me as mãos e sentia o fervilhar no sangue, o sol que me lambia a pele. Remar contra a maré não faria sentido, nem sentido tinha não sentir a água sem sal. Contido ficava eu de cada vez que me cruzava contigo.
E assim fui avançando...

Capitulo XXXVII


Desta vez queria fazer diferente.
Sei que não me bastaria apenas dizer-te coisas bonitas e confiar nas minhas palavras. O meu toque sentido sentindo o teu contido no meu, fazia-me sorrir. Segui decidido pela rua ao teu lado, seguindo a tua mão. Passo a passo na minha algibeira e já meus sonhos se tornavam teus. As ruas de tão estreitas pareciam montras perfiladas à espreita, em cada reflexo meu sussurrado no teu ouvido. Soprei-te então um rosto que me atormentava. Rias-te sem perceberes que era de ti que falava. Eu sorria também. Minha sombra caminhante misturava-se na tua, tomada de inocência puramente casual.
A viagem só tinha ida e eu seguia pela tua mão.

capitulo XXXVI


Finalmente chovia.
Caía violentamente como numa zanga de séculos. Enquanto me deslocava pacientemente por entre as bátegas que mais pareciam pequenos martelos, as sirenes confundiam-se com o sentido unidireccional do nevoeiro que se ia abatendo sobre mim. À minha volta, simplesmente nada. Apenas a confusão caótica provocada por restos de ruído e rastilhos roídos de inveja e pura maledicência. Tentei pôr-me à escuta para ver de que lado da rua escolheria o meu caminho. Mas nem a chuva nem o coração, me davam pistas claras sobre qual deveria eu seguir.
Mas fechei os olhos e avancei.
Sim, é verdade...eu chorei.